terça-feira, 13 de novembro de 2012

O descompasso entre o mundo do trabalho e a Educação 3.0




    A História nos revela que a educação sempre seguiu as exigências do mercado de trabalho. Partindo da aprendizagem do século XIX desenvolvida para o trabalho rural ao surgimento das escolas como modelos industriais do século XX a educação sempre refletiu a realidade do momento histórico- cultural.

     Diante do contexto do século XXI, no qual a cultura digital está sendo a mais disseminada entre as crianças e os jovens, a educação está em descompasso com as exigências dos perfis profissionais.

   Jim Lengel, consultor e professor da Universidade de Nova York, autor do livro Educação 3.0, conceitua as diferentes formas de aprendizagem desenvolvidas durante os séculos XIX, XX e XXI. De acordo com Lengel os modelos de aprendizagem evoluíram da Educação 1.0 para a Educação 2.0 chegando à atual e esperada Educação 3.0. O que seriam esses modelos de aprendizagem?

   Lengel elaborou um interessante infográfico, exposto abaixo, que representa o trabalho e os modelos de aprendizagem  desenvolvidos durante os séculos citados.
Imagem postada no site PORVIR

    A provocação do autor é referente à necessidade de adaptação das escolas a um sistema de educação inovadora que atraia os estudantes e os equipe com as habilidades, experiências e conhecimentos para sobreviver e prosperar no século 21. Como pode ser notado no infográfico do autor a Educação 3.0 está em descompasso com o mercado de trabalho predominando as mesmas caracterísicas do século XX.

    Os educadores enfrentam o desafio de formar profissionais atuantes em um mercado que exige habilidades que não são ensinadas nos livros. A formação dos alunos deve proporcionar a capacidade de lidar com o excesso de informações hoje disponíveis, habilidades de administração, autogestão e resolução de problemas cada vez mais complexos e trabalhos colaborativos. Todas essas qualificações devem ter as tecnologias como ferramentas auxiliares para o processo de aprendizagem mediadas pelos professores. Para os que se interessam pelo assunto recomendo o site do grupo de especialistas que discutem problemas reais de sistemas educacionais espalhados pelo mundo e suas possíveis soluções: GELP (Global Education Leaders’ Program).

    A maioria dos educadores já perceberam que os sistemas educacionais precisam se adaptar, mas há uma preocupação com a formação desses educadores? Quais os benefícios proporcionados pela Educação 3.0 aos educadores além das ferramentas para organização e administração dos seus projetos? Indagando mais claramente: Qual a garantia da valorização dos educadores que se dedicarem à novas capacitações para formar trabalhadores competentes? Quais incentivos que os profissionais da educação receberão para se desbruçarem em atualizações, planos de aulas, projetos, provas, mostras culturais, plantões pedagógicos, etc? Os 10% do PIB serão realmente investidos em educação? A Educação não merece os royalties do petróleo?

     O desenvolvimento de um país não pode ser medido em estatísticas superficiais para "fazer de conta" (IDEB) que a missão está sendo cumprida. Há muitas exigências de práticas inovadoras feitas aos professores, mas não há investimento na carrerira desses profissionais que formam os trabalhadores que o mercado precisa. A realidade tecnológica é deslumbrante para os que são incentivados a descobrí-la e usá-la em seu benefício. Quais os incentivos que temos no Brasil para que o professor invista em atualizações e especializações?  

    É necessário dar voz aos professores, principalmente das escolas públicas, para saber se estão dispostos a contribuir com o desenvolvimento do país que não os valoriza. Caso contrário estaremos vivendo uma educação hipócrita que "deforma" ao invés de formar cidadãos, como afirma Theodor W. Adorno (1995).


Referências:

ADORNO, Theodor W. Educação e Emancipação. São Paulo - SP: Editora Paz e Terra S.A; 1995.

LEGEL, Jim. Educação 3.0: sala de aula X mundo de trabalho. Disponível em: < http://porvir.org/porpensar/educacao-3-0-sala-de-aula-ambiente-de-trabalho/20121029> Acesso em 09 de Novembro de 2012.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Novas tecnologias para novas posturas pedagógicas

  As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) evoluíram juntamente com a globalização e contribuem desde o seu surgimento para o processo de ensino-aprendizagem.  Para a EAD as ferramentas disponibilizadas pelas TIC são indispensáveis já que o processo dessa modalidade só se concretiza utilizando essas ferramentas como suporte. 
  Diante dessa realidade de interdependência entre tecnologia e educação é necessário discutir o papel pedagógico das TIC para a educação.  As falhas de muitas tentativas educacionais por meio das TIC estão no uso inadequado das ferramentas utilizando-as com as mesmas metodologias arcaicas. Ou seja, mudam-se as ferramentas, mas não as concepções pedagógicas de uma nova cultura de aprendizagem.
  O escritor norte-americano Marc Prensky (apud Tecnologia na Educação 2012), autor do livro Teaching Digital Natives (Ensinando Nativos Digitais) relata a importância dos professores, principalmente da Educação Básica, verem a tecnologia como a oportunidade de fazer coisas novas de modo diferente. Alerta para as mudanças não somente das ferramentas, mas dos projetos, das políticas e principalmente das concepções pedagógicas. Ou seja, de nada adianta utilizar novos recursos para disseminar velhos conceitos.
Para nos auxiliar na visualização dessa realidade é interessante assistir ao vídeo abaixo:

 Espero por meio deste pequeno texto e sugestão de vídeo ter contribuído para uma reflexão sobre as novas posturas pedagógicas!

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Pesquisa sobre graduação em Pedagogia à distância alerta sobre as mudanças necessárias na modalidade




Li uma matéria muito interessante sobre os cursos da Modalidade a distância e acredito que nos dá proveitosos indicativos dos pontos que precisam ser mudados na EAD. Apesar de ter sido feito um estudo voltado para a Licenciatura em Pedagogia por ser a graduação mais frequentada na modalidade on-line as características são as mesmas para todos os cursos. A pesquisa foi realizada entre maio de 2011 a abril de 2012 pela Fundação Victor Civita (FVC), em parceria com o Banco Itaú BBA e o Instituto Unibanco. O estudo revela o estado atual dos cursos à distância de formação inicial de professores e propõe medidas para melhorar a qualidade nessa modalidade. 
O estudo revela a realidade da Pedagogia à distância que enfrenta os mesmo problemas da modalidade presencial.  Entre os problemas enfrentados pela modalidade estão:
  • Ênfase nos fundamentos gerais. Disciplinas como História e Sociologia da Educação são valorizadas em detrimento daquelas voltadas aos conhecimentos didáticos como conteúdos da Educação Básica e Currículo; 
  • Frágil associação com a prática educacional restrita somente às atividades de estágio exigidas em lei;
  • Indefinição do perfil do tutor que não tem uma regulamentação da profissão e das condições de trabalho;
  • Institucionalização precária que não atende aos diferentes contextos das regiões do país por oferecerem cursos muitas vezes padronizados;
  • Ausência de especificidades da EaD. Apenas 1,8% das disciplinas se dedicam a conteúdos relacionados à EaD.
Os pesquisadores definiram sete propostas para institucionalizar o curso de Pedagogia na EaD com qualidade na formação profissional:
  1. Formatar bons modelos. Os cursos devem empregar equipes multidisciplinares que trabalhem as linguagens e a infraestrutura necessária ao curso à distância;
  2. Profissionalizar o tutor. A atividade precisa ser regulamentada;
  3. Vincular o curso à rede local. O projeto pedagógico dos cursos precisa ser flexível para se adaptarem às diversas localidades do país;
  4. Fortalecer a presença do docente. As instituições devem criar condições para que os professores trabalhem em conjunto com os outros profissionais das equipes de planejamento, implantações e suporte ao curso;
  5. Interiorizar e expandir a oferta. Há a necessidade de expandir o acesso da modalidade fora de centros urbanos e capitais, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, onde ainda há poucas opções de curso;
  6. Integrar as modalidades. Os cursos presenciais e à distância precisam ser ofertados e estruturados em conjunto e não como se fossem organizados em instituições diversas;
  7. Oferecer  transparência. Disponibilizar os programas e o calendário dos cursos para que os alunos planejem suas rotinas de estudos.
A urgência de um novo planejamento dos cursos de graduação e pós-graduação é evidente. O novo panorama educacional precisa de profissionais qualificados capazes de fazerem uso das TIC’s de forma criativa e contextualizada. É necessário formar professores capazes de gerenciar as novas possibilidades de construção de conhecimento. A realidade aponta que a evasão não é um fato apenas da Educação Básica, mas também do Ensino Superior devido ao sentimento de “exclusão digital”. Os cursos precisam capacitar os futuros docentes para utilizar as tecnologias durante o curso e, mais adiante, na vida profissional.


Para quem tiver interesse o dowload da matéria pode ser feito no site da Fundação Vitor Civita pelo link abaixo:
http://www.fvc.org.br/estudos-e-pesquisas/2011/educacao-distancia-oferta-caracteristicas-tendencias-cursos-licenciatura-pedagogia-694022.shtml

Abaixo está a entrevista da organizadora da pesquisa Maria Elizabeth de Almeida, docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Criatividade e educação

Recomeçando um blog depois de tanto tempo lendo e escrevendo sobre assuntos diferentes. Não valorizamos tantas produções feitas durante nossa vida e acabamos as deixando de lado. Bom, mas sempre é tempo para recomeçar.

Sou pedagoga e pós-graduanda em EAD e tenho uma "queda" pela questão da criatividade e do lúdico. Gosto tanto da essência da liberdade que minha Tese de Conclusão de Curso (TCC) foi sobre o lúdico e aprendizagem na perspectiva de Vygotsky. Para os que não conhecem Vygotsky foi o criador da teoria sociointeracionista que trabalha a noção de que o desenvolvimento intelectual e motor das crianças ocorrem em função das interações sociais e condições de vida. Concordando plenamente com essa teoria depois de realizado o tão temido TCC  fiquei preocupada com o desenvolvimento das crianças que estão numa realidade bombardeada de afazeres que desvalorizam sua liberdade.  Não importa a realidade da infância seja ela numa família abastada ou pobre a prioridade dada é a formação de um sujeito para o trabalho para adquirir um status social.

As escolas principalmente a partir da segunda fase do Ensino Fundamental trazem em seus Projetos Políticos Pedagógicos uma prioridade ao ensino das matérias consideradas "básicas e mais importantes" como Português, Matemática, Ciências e Geografia. Na Educação Infantil ainda são consideradas as orientações dos Referenciais Curriculares da  Educação Infantil que pelo menos  valorizam as interações sociais no desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor das crianças. Acredito que o desenvolvimento de habilidades artísticas como pintura, dança, artesanato, canto, dentre outras, trazem contribuições significativas para o processo cognitivo e motor que não tem fim na primeira infância. Infelizmente passando essa primeira fase da vida os sujeitos entram numa dura realidade na qual os pais e as escolas passam a cobrar o cumprimento dos padrões esperados de "excelente aluno", "aluno nota 10". Essa realidade está cada vez mais presente e a dificuldade de encontrar pessoas criativas será cada vez mais remota.

A característica da nova realidade educacional é o aumento do uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) nas escolas e nas empresas. A EAD não é mais o futuro e sim a realidade do processo educacional. Traçando uma relação entre criatividade e o uso das TICs podemos afirmar que para lidar com a variedade de recursos e ferramentas disponíveis os quesitos ousadia e autonomia são indispensáveis. É necessário formar sujeitos sem medo do erro e de serem curiosos. As grandes empresas procuram por pessoas capazes de lidar com as diferenças e com os imprevistos, pois nenhum empreendimento segue em linha reta há altos e baixos e aqueles que não souberem transformar as ruínas em benefícios serão "descartados".

Assisti a um vídeo muito interessante  do consultor de governos europeus, o professor inglês Ken Robinson. Nesse vídeo ele diz que o sistema educacional inibe as habilidades pessoais e quem nem todos precisam ir à universidade. Ken Robinson expõe a importância do incentivo à criatividade e como as crianças desde cedo são preparadas para não errarem e a não ousarem, pois os padrões acadêmicos exigem  o cumprimento de regras. Para educadores apaixonados pelo tema assim como eu vale a pena assistir!





Enfim, não tem como fugir das minhas raízes de pedagoga que ama a infância apesar da EAD ser uma modalidade utilizada no Brasil predominantemente por adultos. O meu objetivo é demonstrar que é no início de um processo de formação que se constrói a autoconfiança e o alicerce das habilidades cobradas pelo mundo empreendedor. Para quem ama e deseja o melhor para suas crianças a melhor saída é valorizar suas criações por mais simples que sejam e não tratarem o erro com punição e sim como uma tentativa de fazer algo novo. É isso que a atual ( e não nova) realidade empreendedora precisa.